Estagflação: Uma olhada para a situação real da economia brasileira
- Emmanuel Coz Alarcon
- 26 de jan. de 2022
- 5 min de leitura
A dinâmica dos fatores que estimulam a economia é variável em decorrência de diversos processos sociais e políticos que determinam o seu comportamento em uma escala local ou mundial. O Brasil tem passado por momentos de altas e baixas, alguns em que a nossa economia mostrou importantes avanços e outros com um crescimento mais lento. Nos últimos dois anos, a economia brasileira viu-se afetada pelas consequências provocadas pela pandemia, o que agravou o panorama da já desgastada economia nacional. Além disso, é necessário analisar a falta de políticas públicas sustentáveis que impossibilitaram garantir uma estabilidade financeira nacional a fim de evitar que este desequilíbrio não comprometa diretamente o aumento dos preços de produtos e serviços de primeira necessidade sendo este valor a mais quase sempre repassado à população com menos recursos e com dificuldade para levar comida à mesa.
A notícia de que a economia brasileira atingiu níveis altos de inflação tem sido preocupante no cenário nacional e prevê que a situação no país tenda a piorar. Para analisar o problema, tem-se que a recessão econômica atual é resultado das últimas crises que causaram esta preocupante situação e colocam em risco a estabilidade monetária brasileira devido à "estagflação". Esta situação ocorre quando a economia se estagna e a inflação resulta no encarecimento dos produtos básicos, além da diminuição do poder de compra do dinheiro e o enfraquecimento do real no mercado internacional.
Mas... será que essa tal estagflação impacta a todos nós por igual? É claro que não.
Segundo a economista Paula Magalhães na sua entrevista para a CNN Brasil (2021), o processo de recuperação econômica e impacto social é desigual já que está comprovado que pessoas com baixa renda, de até R$1.600, têm 10% da sua renda salarial comprometida diretamente pelo aumento do custo de vida como resultado da inflação. Enquanto pessoas que ganham acima dessa média o impacto da inflação é menor. Esse panorama não é só resultado dos efeitos colaterais da pandemia, já que a má calibragem da política econômica nacional resultou no crescimento da inflação. A falta de sustentabilidade fiscal está relacionada às grandes quantidades de dinheiro que o Governo Federal gasta sem considerar a sua capacidade de pagamento das dívidas que ele pode assumir. Segundo o jornal "El País" (2021), na sua versão em português estima-se que durante o primeiro ano da pandemia cerca de 8 a 10 milhões de brasileiros perderam seus empregos e mais de 60 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo Auxílio Emergencial. A pergunta é: qual a justificativa do Estado para esse excesso fiscal?
Houve medidas que visaram amortecer os impactos da economia a curto prazo, porém a falta de controle do orçamento nacional, por parte das autoridades, compromete o futuro da estabilidade da economia brasileira.
Para definir os fatores atuantes que convergem nesta problemática, que atinge diretamente o bolso do cidadão, devemos diferenciar as causas externas e internas que contribuem para esta instabilidade econômica.
Figura 1 - Desempenho do PIB

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/202103/03/pib-brasil-2020-ibge.html
O avanço da vacinação e a volta à atual nova normalidade em vários países mais desenvolvidos aumentou consideravelmente a demanda do barril do petróleo no mundo, sendo o seu preço reajustado pela OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo), que determinou o valor desta commodity. Como consequência, a falta de gasolina e diesel afeta diretamente o transporte público e de mercadorias. Ao último segmento recai o aumento do preço do frete que gera um aumento no preço do produto final, como alimentos e outros bens.
O incentivo da economia por meio da redução de taxas, como a SELIC, facilita o fluxo de capital a curto prazo com taxas mais baixas de juro mas também acaba desanimando a entrada de capital do exterior pela pouca margem de ganho, ou seja, isso garante o fluxo de capital, mas provoca uma queda de entrada de dólares, desvalorizando o real dentro do mercado internacional. Além disso, a instabilidade jurídica e política não oferece as garantias para grandes investimentos.
Visar por uma economia saudável e sólida capaz de manter a segurança da população torna-se importante para entender como as decisões geopolíticas e econômicas têm seus impactos diretos no bolso das famílias brasileiras, colocando em risco os direitos dos cidadãos, principalmente aqueles que vivem em situação de pobreza. O real em queda também aumenta o preço dos produtos que o Brasil importa e depende, especialmente, do setor eletrônico e industrial.
As causas políticas internas estão relacionadas e geram, além da falta de seriedade na tomada de decisões econômicas importantes, as grandes consequências do impacto ambiental e são muito relevantes na hora de interpretar os seus efeitos na natureza e na economia. A crise hídrica em 2020 e 2021 provocou uma seca histórica em várias regiões do Brasil, tendo uma grande queda na safra do café, da soja, do milho, da cana de açúcar, do feijão, entre outros, sendo alguns desses alimentos importantes para ração de bovinos, comprometendo o valor do preço das carnes. Além disso, o açúcar é usado para produzir etanol e é um dos componentes da gasolina, razão que contribui também ao encarecimento do combustível. O aumento de queimadas e o desmatamento descontrolado devastou milhares de hectares no setor agrícola, tendo a indústria pecuária e áreas de conservação natural também sido afetadas afetadas. Com o preço do dólar em ascensão, já que essas commodities são cotadas em dólares, diversos produtores optam por exportar a produzir para o mercado interno, provocando um aumento dos produtos e reduzindo a disponibilidade de alimentos nas mesas dos brasileiros.
As baixas precipitações afetaram a produção de energia hidroelétrica, tendo que depender de outras alternativas mais caras e contaminantes para o meio-ambiente, como as termelétricas. O aumento do preço da conta de luz se manteve em bandeira vermelha por muito tempo enquanto o Estado se negava a decretar possibilidades de rodízio de energia como medida nacional em decorrência da grave crise hídrica.
Figura 2 - Reservatórios quase vazios na Região do Alto Paranaíba, divisa de GO e MG.

O efeito cascata da crise econômica também levaram ao Brasil a voltar ao Mapa da Fome, situação que compromete a segurança alimentar das pessoas devido ao desmonte de políticas públicas de segurança alimentar, que sofreram grandes cortes orçamentários, que são responsabilizados em grande parte pelo governo do presidente Jair Bolsonaro e além de ter resultado no crescimento da pobreza extrema no país.
Figura 3 – Fila de cidadãos esperando doação de ossos em Cuiabá - MT, 2020.

Sem dúvidas, esse ano de 2022 será um ano de grandes acontecimentos, tais como a tensa situação política em detrimento das eleições presidenciais assim como a luta constante para reduzir os impactos das mudanças climáticas e do valor de commodities cotada no exterior, que continuarão afetando a qualidade de vida das pessoas até a formulação e implantação de um plano nacional capaz de dar suporte ao crescimento do PIB e a redução da inflação.
Contudo, interpretar esses indicadores macroeconômicos negativos vai além de enxergá-los como simples dados, pois cabe a nós analisar as causas, as decisões que poderiam ter sido tomadas e buscar estratégias a fim de atenuar os impactos da crise e visar pela qualidade e expectativa de vida dos cidadãos.
Comments